Timor
(1975)
O primeiro raio de sol
invade o meu corpo
sozinho vagueio nas planícies de Same
e sonho com a conquista
do Tata-Mai-Lau
acordo em Maubisse
rodeado de quatro paredes
prisioneiro da realidade
quero deixar os meus olhos
na caixa postal
esperando as tuas doces palavras
e o Porto aqui tão longe
deixo-me envolver pelo vazio
até ao supremo acto do pôr-do-sol
os dias passam
e só as sombras anunciam
a costa da liberdade
corres ao longe
e desapareces nas águas
apetece-me ser barco
argonauta da música
navegando ao encontro
dos
teus braços
14-05-2020
verso 3 - Same - sede de concelho do reinado de Manufáhi
verso 5 - Tata-Mai-Lau - pico mais alto da cordilheira Ramelau
verso 6 - Maubisse - posto administrativo do concelho de Same
José Pinto Leite (n. 1951)
Foi
actor e dirigente do Teatro Universitário do Porto e exerceu a docência. Em
1975, integrado no exército português, chegou a estar preso em Timor. Como
poeta, colaborou em publicações marginais como Off e Avatar, e em
revistas como Quebra-Noz e Pé-de-Cabra. Em co-autoria,
editou os livros Ménage à Trois (2011) e Bicho-da-seda (2020).
Publicado em 20-5-2020.

Maubisse. Timor