1.º DE MAIO, DIA DO TRABALHADOR

01-05-2020

A minha liberdade 


vós os que procurais em vão a justiça
vós os que interrogais os céus inutilmente
vós olhos doridos de desilusão
tomai a minha liberdade


vós que ainda não tivestes a vossa hora
vós que ainda não divisastes a terra prometida
vós que sois espoliados até da vossa esperança
tomai a minha liberdade


tomai-a nas mãos com amor religioso
é tudo o que possuo - e é tão pouca
é diminuta como uma semente
mas é como semente que eu a quero


é pela semente que aquele campo é uma seara
é pela semente que a foice desce ao trabalho
é pela semente que nesta mesa há pão


abdico desta semente
e na hora em que poderia usá-la
podeis lançá-la ao campo de batalha
para que dê fruto e vos sacie


bom é que morra no aceso do combate
como morrem todas as sementes
para ressurgir em libertação

1974

Anthero Monteiro (n. 1946)

Poeta, autor de livros para a infância, investigador em literatura e cultura portuguesas e em história local, pedagogo e divulgador de poesia. Últimos títulos de poesia editados: Sete Vezes Sete Nuvens, 2010, e Sulcos da Memória e do Esquecimento, 2013.

Publicado em 1-5-2020.

Cartoon de João Abel Manta  

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