Que límpidas as águas de Veneza…

29-04-2020

Que límpidas as águas de Veneza

Que silêncio nas ruas de Londres

Que ar puro nos boulevards de Paris

Parece que finalmente o homem entendeu

Parece que finalmente os pássaros e as árvores

Conquistaram a terra

É primavera e o cheiro dos morangos inebria

Os viandantes

Mas onde estão eles os viandantes

Onde estão os derradeiros poetas

Do impossível?

O fantasma de Blake caminha nas avenidas desertas

E o fogo dos tigres caminha com ele

E com Borges mais o seu Aleph

Até as guerras subitamente silenciaram

Os seus canhões de séculos

Terão chegado os tempos da segunda vinda?

Estará Jesus de novo entre nós

Com o seu olhar límpido e transfigurado

De amor pelos homens?

Estaremos nós nos tempos finais?

Onde estão as multidões?

Onde estão os profetas?

Para onde foram os sacerdotes de todos os templos?

E os chefes incontestados e os generais e os almirantes?

Para onde foram as esquadras e os exércitos?

Que oculto desígnio operou o milagre?

No cosmos as estrelas continuam brilhantes

E a lua voltou a ser de novo uma inspiração para os amantes

Que bom termos acedido finalmente ao toque de Midas

Ao velho sonho dos alquimistas

Nicolas Flamel pode repousar descansado

E Nostradamus e o Bandarra

Tudo o que tocamos

Se transforma não em oiro mas em pedra!

Bem-vindos ao reino da Medusa!

29-3-2020

José Soares Martins (n. 1953)

Escritor e professor universitário. Co-autor de Setembro (1984), Ménage à Trois (2011), Bicho-da-seda (2020) e de obras e artigos na sua área de investigação, a psico-sociologia.

Publicado em 29-4-2020

San Giorgio Maggiore at Dusk or Sunset in Venice (1908). Claude Monet 

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