Voos (a pedra e o pássaro)

27-05-2020

Nunca caí em pleno voo

talvez porque nunca tenha conseguido voar


Mas conheci pedras que afeiçoadas à mão

e com o impulso certo

subiam mais alto do que muitos pássaros

Talvez se cansassem mais depressa: não tem jeito

nenhum para uma pedra ficar tanto tempo

afastada do chão: uma pedra é uma pedra:

sempre pedra - não é bicho

para se aninhar nos ramos da amoreira a parir um ninho


Tirando isso sempre preferi pedras a pássaros


além do mais se um dia atirarmos um pássaro a uma pedra

ela não nos vem cair aos pés feita um frangalho

de bico e penas sangrando

de um minúsculo coração. 

Rita Taborda Duarte (n. 1973)

Poeta, crítica literária e autora de obra vasta e premiada, na área da escrita para a infância e a juventude, desde A Verdadeira História de Alice (2004) até Um Hotel de Imensas Estrelas (2019). Últimos títulos de poesia editados: Roturas e Ligamentos (2015) e As Orelhas de Karenin (2019). Publicado em 27-5-2020.

Pessoa atirando uma pedra a um pássaro (1926) de Joan Miró  

Copyright © 2020 Blog SOBRE O LADO ESQUERDO. Poesia & textos afins. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora