Cotão


Sonhador da noite pênsil,
sonhador do Canto IX,
que vais de imagem em imagem
sobre uma corda de sono,
a cada passo que dás,
deixas coisas para trás:
um fio, um cabelo, um pêlo,
um pedacinho de pele...


Ei-los girando pelo abismo,
minúsculos pontos em chama...
Amanhã hás-de encontrá-los
debaixo da tua cama.

                                                                                                                                       Quarto em Arles (3.ª versão) de Vincent van Gogh (1889)  


Violeta Figueiredo (n. 1947)

Autora de poesia e escritora, várias vezes distinguida, de literatura para a infância e a juventude. Alguns títulos nesta área: Mistérios em Tempo de Aulas, 1991; Fala Bicho, 1992; O Gato do Pêlo em Pé, 1997; Portas, 2008; Portões, 2008. A sua poesia pode ser lida em https://poemas-ineditos-vf.tumblr.com/ e noutros blogues. Publicado em 20-7-2020.


Porcelana


Já bebi canja por chávenas,
há chávenas que aturam tudo:
gelo, quentura, pires sujos,
vitrinas, pevides, gripes,
lágrimas, baba em canudo,
tudo,
à espera do dia-não
em que nos caiam ao chão.


Violeta Figueiredo (n. 1947)

Autora de poesia e escritora, várias vezes distinguida, de literatura para a infância e a juventude. Alguns títulos nesta área: Mistérios em Tempo de Aulas, 1991; Fala Bicho, 1992; O Gato do Pêlo em Pé, 1997; Portas, 2008; Portões, 2008. A sua poesia pode ser lida em https://violetafigueiredo.blogspot.com/ e noutros blogues.

Publicado em 3-5-2020.

A chávena de chá (1898) de Columbano Bordalo Pinheiro 

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